quinta-feira, 23 de julho de 2009

A Carta


Preste atenção Gustavo,


sei que há muito não lhe escrevo, porém venho por meio destas humildes palavras de desabafo me redimir. Sinto sua falta incansavelmente querido amigo, me perdoe, troque minha ausência por abraços eternos, talvez assim sendo poderás se sentir confortado pela solidão que lhe impus devido ao chá de sumiço que devo ter tomado sem conhecimento em alguma tarde de leitura em um café de esquina. Provavelmente aquele na esquina do meu prédio que apesar do desleixe do lugar denunciado pelas paredes de tons escuros descascadas, e uma ou outra preguiça dos atendentes, faz o capuccino que é do meu gosto. O chá que devem ter me oferecido por conta da casa por certo era de sumiço, deduzo que tenha sido por vingança daquela nossa visita, "querem nos destruir Gustavo" dizia eu repetidamente, hahaha, bons tempos.

Apesar da vida monótona acabo por ter algumas anedotas do dia-a-dia pra compartilhar, Gustavo? Tá lendo? Você sempre devaga na leitura, melhor lhe chamar a atenção vez ou outra.

Ah querido amigo, lhe conheço muito bem! Sei do teu desejo de se tornar presidente da república, procede? Até hoje não é? Você sempre foi um espírito livre, igual a mim. Talvez por isso que todos os rapazes que tive lhe tinham um ciúme incontrolável, tinham total ciência de que erámos nós os incontroláveis. (Até tinham razão de certa maneira, sabiam de nossos beijos às entocas, mas não sabiam que apesar disso nunca levamos pouco mais adiante. Talvez receio teu, talvez medo meu, mas nunca negamos nossa quimica não é?) Num estalar de dedos parávamos em Roraima, em um piscar de olhos, Mato Grosso do Sul. Boas viagens, entoados pelas canções de estrada "meu limão meu limoeiro, meu pé de jacaranga!", você não é nem um pouco afinado querido, saiba desde já, palavra de uma velha amiga.

Me recordo cena por cena de nossas idas às boates noturnas, você me induziu aos meus primeiros porres e ressacas, e eu lhe induzi às danças que no dia seguinte batiam como vermelhidões nas bochechas devido á lembrança dos movimentos desengonçados que fingiamos ser passos modernos ao som das batidas das caixas de som, hahaha, nossa cumplicidade sempre convenceu os outros que as mais puras histórias inventadas eram verdades. "Velhos parceiro de crime" dizia o negão da bodega. Lembra-se dele Gustavo? Sempre nos cedia um caldo de galinha nas madrugadas enquanto distraiamos-no com nossos contos das ultimas trapalhadas. Ainda ecoa em meus ouvidos aquela gargalhada alta e musical que ele soltava aos quatro ventos.

Acabou-me o espaço da escrita, e não consegui escrever metade de nossas memórias, muito menos minhas novas anedotas, considere isso uma brecha para lhe escrever muito em breve.

Sei que você já partiu Gustavo, e sinto muito em dizer que não estive ao teu lado nos últimos tempos. Sinto a dor no peito de não poder receber tua respostas nem sentir teu abraço torto que sempre me dava. Mas saiba, sempre receberás palavras minhas, nunca é tarde para recuperar o tempo perdido. Que Deus esteja aí em cima a sua companhia lhe guiando.


Um beijo, um abraço e uma cachaça, como sempre brincávamos.


Sua velha amiga,


Elis.

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