sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Quem ser eu.

Eu sou morena, ruiva e loira. Sou magra, gorda, tenho o peso ideal para a minha altura. Sou petite, 1,68m, muito alta. Na verdade, eu sou nada, procurando por tudo.

Estas nuvens que por mim passam.


Sentada. Tomando um gole da garrafa pet de Sprite, seu refrigerante preferido. Pensava. Pensava que ali sentada passaria pela calçada alguma solução qualquer que a tiraria da monotonia. Fora em festas, confraternizações, saideiras, e botecos sujos de copos imundos. Porém, solução alguma lhe aparecera. Então resolveu ali sentar e encher a cara de refrigerante. Colocava a mão no queixo, deitava de barriga pra cima ignorando os vermes e bactérias que na calçada vivem, se reproduzem e morrem, em nome das nuvens que obsevava passar em sua lentidão corriqueira, função de nuvem. "Aquelas nuvens se mostram mais monótonas do que a minha pessoa, pensou. E depois levantava, tomava outro gole, deitava e levantava. Nesse sobe desce nada de monótono estava acontecendo ao seu redor. Nesse sobe desce ali passou a empregada levando a mascote Filomena para seu passeio diário, o entregador da videolocadora entregando a encomenda para a casa vizinha, passou Tia Leda que olhou pelo canto dos olhos a garota olhando para as nuvens ( e ainda pensou consigo mesma "essa juventude não faz nada, na minha época as coisas não eram assim"), passou Eduardo, Celso e Marcelo, três reles desconhecidos que caminhavam pela vizinhança aleatoriamente. Eduardo, Celso e Marcelo, o primeiro passou às 13 h, atrasado para a faculdade, escolher aquele caminho pareceu-lhe uma boa ideia por ser um atalho para seu destino já que se encontrava atrasado para a aula de Teoria da comunicação. O segundo, Celso, passara meia hora antes de Eduardo, estava perdido, buscava a casa do amigo Robson que lhe dissera para virar na terceira rua à esquerda. Mal sabia ele que aquela já era a quarta à esquerda. Marcelo sabia muito bem onde estava, acabara passando em um concurso e seu objetivo ali na rua dos Almirantes era entregar cartas, era um tanto novo para o cargo, mas carregava em seu corpo a farda dos correios com orgulho, acreditava que quanto mais propagarmos os costumes de antigamente melhor a geração futura manterá valores que a sociedade atual está se esquecendo. Ele passou às 15 horas e 23 minutos.
A menina, ali, ocupada de se deitar, levantar, tomar um gole de seu refrigerante de preferência, e lamentar seu cotidiano medíocre, esqueceu-se de olhar ao seu redor e perdeu três chances de amar.

Não me toques.

Uma certeza me permite concluir um fato que me constrói, seria esse fato minha condição de mulher que não me permite fazer o que é certo. Minha condição de humana me restringe a errante diante de minhas próprias morais. Imoral. Não se tem certeza de nenhum fato, na realidade, já que sempre me proponho a andar por caminhos opostos cada vez que me viro. É a esperança de ter um final de história satisfatória tentando se opor ao medo das melhoras de espírito, que para ser tocada deve-se tombar, cambalear para então saber onde pisar.