terça-feira, 10 de setembro de 2013

Mercedes na feira.

Mercedes tem mania de andar rápido. Até parece que tem medo do sol. Todo sábado de manhã Mercedes coloca a saia lápis justa por cima da meia calça cor de pele, o sapatinho de salto baixo e arruma o carrinho de feira dela.
Abre a porta e se atira lá pra fora. E ela anda bem rápido mesmo. Passos apertados.
Que nem pé de vento ela passa pelos apertados corredores da feira. Aperta maçã, aperta pêra, bate o punho na melancia. Ela sempre com os lábios rígidos, sem dar um sorriso, um pestanejar desnecessário.
Da minha barraquinha de pastel com caldo de cana, sempre quis saber o que aconteceu com Mercedes. É perceptível que aquela senhora rude foi das mais belas quando jovem. Nunca casou, nunca nenhum familiar veio fazer visita.
É só Mercedes, com a maçã, a pêra e sua melancia.

E será que volta

Não tem nem porque de me fazer voltar pro que já morreu
É bem assim, um exercício nostálgico e secreto que um dia talvez alguém há de ler
Se for um desabafo vez ou outra tudo bem
O importante é não engarrafar pensamentos como bem faz aqueles perdidos mar a dentro
Perdida estou, à deriva na terra à vista
E é no mundo imaginário da minha cama que escrevo
Talvez pra lembrar à escrever
Talvez pra lembrar à falar bonito