terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Põe Mais Um Na Mesa de Jantar...

que hoje preciso levar o salpicão com batata. Não foi feito de qualquer jeito, teve o tal do carinho no meio, não tenho culpa se o gosto saiu de moda, é que você sabe, carinho meu é complicado, mas não tem nada de mau cuidado. Aumenta o rádio que eu adoro essa música, essa mesmo, essa do verão, da tarde de verão, cantando em letras simplórias sobre um amor piegas entre eu e você. Entre nós. De quando coloco sua foto na moldura, ou de quando falo pra todo mundo das besteiras gostosas que você usa pra me fazer rir. Sorrir. Qualquer um dos dois. Brilhou, ornou com o vestido de costuras e pences que eu mesma fiz naquela aula de tentativa de estilista. Tá escrito no romance que eu cultivei, na cartinha que você me deu, nos batuques que a gente causou. Talvez seja por isso que essa paixão voltou, talvez seja por isso que o amor não morreu, talvez seja por isso. Ou será que veio da certeza de um amor bonzinho, com cara de mau, da transformação de cada uma das partes, que são um a cara do outro, um do jeito do outro. É um par que é pareo. Por que amor que todos telefonam dizendo que foi feito pra ser amor não é pra qualquer par, não é pra qualquer esquina, não é pra qualquer um combinar sem botar ou tirar. De qualquer jeito amor, bota preguiça aqui nesse sofá, que talvez seja por isso.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Inexpressão

Talvez seja aquelas epifanias auroriais, ou então o silêncio da noite que assopra no ouvido, por entre os cachos. Uma montanha se constrói ao lado, roncando, cantando, sonhando. E se enrolando nos lençois abre as portas pro mundo, todo percorrido num relance só. Não feche os olhos, não feche. Não vá, não fique, não morda os dentes. Não se tem mais um não. Por que meu Deus, por que então, a dificuldade de se caminhar caminhos imagináveis que no fundo sabemos que não o são, que em cada porta de casa de cada cidadezinha desconhecida se tem algo inusitado que nos tenta a desviar daquilo. Mas aquilo é necessário, é sonho de criança, é sonho que te acorda á meia noite, mas quando a porta abre é de natureza humana desviar. E já envolvido você se perde, se joga, se distrai, sabe que volta não tem, mas tem algo lá além. O zé avisou. Maria também. Ela mesmo que acorda nessa mesma madrugada pra dá de mamar, coar o café e não desviar.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Tabacaria

(Fernando Pessoa)


Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.


Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),

Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,

Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres

Com a morte a pôr umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens.
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,

E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,

E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo

À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.


Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,

Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira.

Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!

E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento

Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu ,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,

Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.

Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...

Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo.
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando.
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -

Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,

Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
0 mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.

Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.

Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;

Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;

Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num paço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
0 seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.


(Come chocolates, pequena; Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!

Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,

Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro

A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.


(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,

Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,

Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.

Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.

Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,

Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,

E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.


Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
0 dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,

Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário

Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça

Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada

E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.

Ele deixará a tabuleta, eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,

E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra, Sempre uma coisa tão inútil como a outra ,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,

E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los

E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,

E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações

E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.

Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira

Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou á janela.

0 homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.

(0 Dono da Tabacaria chegou á porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da tabacaria sorriu.

De Que Adianta

Tenho a capacidade de facilmente passar de romântica irrecuperável á rainha do gelo quando o assunto se volta para relacionamentos. Sabe-se que o ser humano é um animal, e que no quadro geral, animais são poligâmicos. Através disso pode se criar um interessante silogismo: o homem é um animal, animais não são monogâmicos para que possam propagar a espécie, portanto o ser humano não é monogâmico. Cientistas comprovaram que o homem tem esse dom, de desejar mais de uma parceiras, que na língua das mulheres (as que não são tão liberais assim) leva o nome de mulherengo ou possível traição. Ja essa mesma pesquisa explica o fato do por que as mulheres (as que não são tão liberais assim) não tem essa tendência 'natural': filhos. Um ser humanA leva 9 meses para dar á luz, depois mais uns 7 anos para a cria já ter capacidade de fazer algo sozinho, e depois mais 11 anos para emancipá-los, ou seja, são 18 anos de pura dedicação. E seu desejo maior é proprcionar a vida perfeita para a criança, tendo como principal objetivo, criar uma família, com tudo que se tem direito, ou seja, pai da criança. Então durante esse tempo ela não tem aquela necessidade de propagar a espécie, enquanto o homem quer propagar a espécia a noite toda, no sofá, no quarto, no banheiro público, na casa do Zé. Tem-se então o desejo enrustido de propagação de espécie, e no instinto masculino, lá no fundo animal dele, ele tem q propagar espécie em outras, muitas, no máximo que puder (homens por favor não usem isso como desculpa para trair suas mulheres). O fato é, quando foi que nós, gênero feminino da espécie, começamos á criar todas essas expctativas em relacionamentos? Quantos desses que você conhece (namoro, ficas, casamentos, etc.) você viu durar "até que a morte nos separe" ou até que os dois estejam feliz nele? Escorrega pelos dedos. Bate na bochecha. Parte o coração. A solução é a mais complicada, na verdade, não tem muita solução. Não tem uma regra. E ás vezes não tem nem esperança. Tem gente que acaba aceitando que o relacionamento tem desses problemas mesmo, balança o ombro e segue em frente. Tem outros que abaixam a cabeça com a mão nos cabelos tentando entender. E tem outros que assistem filmes clichês chorando de tão lindo que é o amor deles. Sem saber que na verdade choram por que sabe que aquele homem que faz tudo pela mulher, e corre na chuva pra dizer que a ama depois de toda aquela complicação de um que ama o outro, que também o ama, que esse esterótipo clichê de homem NON EGZISTE (como diria o padre Quevedo). Amor perfeito não existe, é sempre complicado. É difícil aceitar os 9 homens com os quais ela já transou, e é difícil aceitar o passado mulherengo dele sem duvidar que não é passado. É complicado, é mar de lágrimas, saber que no fundo homem é homem e um dia fz merda, ou que mulher é vagabunda por que não passa 18 anos atrás do filho e vai atrás de outro homem. Mas deve-se admitir, que a qualidade do ser humano é a de que a esperança nunca morre, que as pessoas não param de se erguer e procurar o par perfeito, talvez pela vida inteira, ou talvez no final acaba se convencendo que esses problemas devem ser normais mesmo e que ele pode se tornar sua alma gêmea, na esperança de que ele não tenha esse desejo de propagar seus genes. Ou seja, de uma forma ou outra, relacionamentos sempre são problemas, e fechamos os olhos para essa realidade. Ou talvez é só uma visão pessimista implantada por um Admirável Mundo Novo.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Ultimo que Morre.

Os humanos vivem com uma preocupação latente de viver pra sempre. Procura-se então viver para sempre em outro. Encontrar o elo perdido de sua alma num sentimento verdadeiro e lá permanecer até o fim da vida, de suas vidas. A complexidade aparece. E a questão aparece: relacionamentos acabam não sendo até o fim da vida. O pra sempre sempre acaba. Então por que dividir-se em alguém que está apenas de passagem? Pergunta que os desiludidos fazem. Qual o sentido disso tudo? Da fé, do desejo, da paixão, esperança, amor, empolgação, e finalmente, o fim? O amor nunca tem nexo, nem na escolha de quem se ama, nem nos meios que escolha, e sempre foi um ponto de interrogação defini-lo. Os relacionamentos não seguem regras alguma, e só podemos seguir os dias na esperança de que dure o máximo possível, com uma boa venda negra nos olhos tateando para adivinhar como agir e por onde ir, tendo a preocupação de não quebrar algo que seja frágil. Algumas pessoas iniciam um romance já sem esperança: "Eu já sabia como ele era, mulherengo sabe? Era pra ser coisa de uma noite só, paixonite. Só que quando me dei conta já tava de anel nos dedos entrando na igreja. Ainda to esperando pra ver no que vai dar.".
Conhecendo várias situações amorosas ao decorrer de anos colegiais acontece muito de um casal acabar resolvendo que se ama, mas que não dão certo, que precisam terminari e se reencontrar daqui 2, 3 anos. Ou seja, acabam que criando uma segurança, pra se nada der certo lá está o amor que ele guardou. Cada um, uma fórmula.
A desesperança acabou se enrustindo ao decorrer dos tempos, ao passo de que os relacionamentos acabaram se tornando completamente fugazes, coisas de uma noite só, talvez pra resumir logo esse negocio todo de fim de namoro. Beija-se e pronto, que venha o próximo. Talvez seja por que sou antiquada, ou talvez por que eu seja romântica demais, mas relacionamentos deveriam ter significados, e deveríamos voltar á ter esperanças de que amor é pra sempre, sem tirar os pés do chão é claro.
Tantos medos afloram que acabmos nos cegando, ignorando sentimentos bons, perdendo aquela esperança boa de que se colocaria a mão no fogo pelo outro. Aquele sentimento tão especial.
Admito que acabei me tornando moderna e perdendo a esperança, mas continuo a tentar encontra-la nem que seja dessa forma contemporânea.