terça-feira, 23 de setembro de 2008

As aves que lá gorjeam.


Cultivo dentro de mim um jardim reverso. O que é belo para mim é o inverso para os outros.
Não sou dessa sociedade, não participo dessa geração, consumo o que posso, aprendo o que eu quero, rejeito os que não quero, quero tudo o que consumo.
Amo a flor do meu jardim reverso, as árvores que ninguém mais partilha, a grama que somente eu compreendo, sem verde, rosa, o qualquer outra cor comum ao olhar comum humano;

Todos esses olhares que de nada servem, que pra nada nasceram, que utilidade estes olhares tem?

Nenhum.
Acreditam sonham, pintam de cor melancolias ignoradas. Eu grito, dramatizo, escandalizo, escancaro, por isso que em lugar algum eu cabo.

Necessidade alguma que me faz crer.

O que pra você é bonito, pra mim é perverso.

E o que vejo eu, ninguém mais vê.
E não há regresso, se há marginalização, se você opta pelo caminho árduo, se você vê além do que se vê, se você entende manipulação e manipula o que os outros entendem.

Alguns me falam sobre verdades que pouco tempo depois se tornam mentiras, delas mesmas, elas mesmas se tronam mentiras.

Fotos e retratos no balanço do jardim, fragilizados pelo tempo, o vento e o sol que simbolizam fertilidade, fotos e retratos daqueles que nem se encontra mais, de quem nem se gosta mais, de quem subverte e se cria aversão.

E esse meu olhar que sabe as mentiras por trás destas fotos e daquelas, sabe o que é obsoleto, percebe falsidade em alguns dos sorrisos pra sempre estampados num pedaço de papel, conheceu mentiras que os outros do mesmo retrato nem fazem idéias, e somente você conhece.

E deita-se na grama que só você entende, triste pela vingança silenciosa maliciosa que só você sabe, imaginando: quem sabe um dia...um dia tudo virá à tona. Um dia você sabe.


♥ por Stephanie Valentine, que sabe que as aves que aqui gorjeam, na verdade gorjeam igual a lá.

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