domingo, 16 de março de 2008

Quando tudo está perdido.

É em câmera lenta que eu o vejo: com direito ao clássico vento no cabelo, a estrelhinha de brilho no sorriso e o versátil olhar de baixo pra cima. Ai que me dá o arrepio da espinha. Ele trabalha na sala ao lado, em frente à um computador que não funciona nada nada, e é nesse esquema que eu entro na história. -Menina me ajuda aqui! Sento ao seu lado, digito algumas bobagens e passo a mão no cabelo, só pra dar o charme no trabalho todo que ando tendo na sua seção. Nem acho ruim. Esse foi só mais um que ficou no passado. Vem outro, câmera lenta, mão no cabelo, o trabalho todo que tenho com ele. E vem outro e mais outro. Não paro, pois canso desse. Se não canso então paro nesse, é uma regra de relacionamento à antiga, por que esse esquema todo de namoro aberto é meio clichê da atualidade, prefiro da forma clássica mesmo. Mas não o clássico muçulmano, porque aí volta pro clichê da atualidade. Até que me apareceu esse, que veio sem mais nem menos, na verdade não foi não. Eu o tinha visto pela primeira vez há uns meses atrás, foi de primeira aquele calor, talvez a primeira vez que eu tenha sentido esse calor, mas fizeram bico, disseram que era gay, taxaram de galinha, e com tanta coisa ruim assim envolvida prefiri deixar pra lá, fingir que não vi. Afinal, tudo isso foi o que eu sempre sonhei...em um homem pra nunca me envolver. Mas essa atualidade com esses esquemas de msn, cinema, clube e televisão lascou com tudo. Ele veio com esses queixo de menino galinha (não gay). Mulher moderna não nega um bom beijo, o que foi que eu fiz, mas nega um mau homem, que foi que eu fiz. A partir daí, depois de ler umas 'Claudias' com depoimentos do gênero de outras que fizeram o mesmo, ele se encantou. E no encanto de um puxou pra outra, que no caso era eu. E o caso foi uma novela, o vai e vem, a viagem, a outra, as chegadas e partidas, o outro, e nesse lenga lenga fois e passando o tempo. Cada minuto junto, cada manhã do lado, cada domingo preguiçoso no canto de sofá, cigarros divididos, miojos num só prato, alianças de verdade, casamento de boca-a-boca. De casal mau homem e menina doida foi para homem-marido e mulher dedicada. A prova de mudanças e o teste de confiança. O encontro de outra parte em alguém que se procurou em toda parte, mas que em algo casual que não se via filhos agora criou-se família. E assim vai, nada de felizes para sempre, porque felicidade eterna é mentira de filme. Mas pode se considerar que seja eterno enquanto dure, e que dure para sempre.

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