domingo, 23 de setembro de 2007

O Amor Acaba


sou muito fã de um conhecido cronista que quinzenalmente escreve uma coluna para a revista capricho (que admito comprar só pra ter o prazer de saborear as palavras do tal escritor), e por ventura também tem um blog (blogdoantonio.blogspot.com.br). Antônio Prata me inspirou muito em muitos assuntos, principalmente em relação ás verdadeiras intenções de Dona Chica da saudosa canção "atirei o pau no gato". A ultima crônica me tocou muito, foi um remix com trechos de um texto do autor que ele é fã (ídolos também são fãs ?), o Paulo Mendes Campos.
Aí está:

O amor acaba. Assim foi e assim será. Numa Quarta-feira de Cinzas, num sábado de Carnaval. O amor se perde, entre o rebolado de duas passistas, debaixo da saia da baiana, o bumbo ecoando as batidas que já não vêm do coração. O amor encolhe, anoréxico, suicida-se de melancolia; acaba num átimo, de enfarto - "tão jovem!", dirão -. ou aos poucos, pingando, em lenta e imperceptível hemorragia, pálido amor; morre de velhice, de obesidade, de preguiça; o amor desaparece no fundo de uma gaveta, entre cartas de amor e contas de luz de 1987: o amor embolora, cria fungos, amarela; acaba entre um sorriso e um soluço, no meio do filme, no cinema, no movimento de mão que busca a outra mão na poltrona, mas mão já não há; acaba no papel de bala amassado, metido no bolso: lá vai ele, tão frágil, o amor; acaba no mesmo colo de sempre, na cama, num gozo triste,na distância entre dois corpos dormentes, num cafuné estéril, cadê o amor que estava aqui?
O gato comeu, o ladrão levou, o anel que tu me destes era vidro e se quebrou, o amor que tu me tinhas, cadê, meu Deus, o amor? O amor escorre, escapa, dissolve, seca, evapora-se de nós, pobres criaturas, "feitas apenas para amar e sofrer de amor"; o amor acaba nas férias, na praia, no sol, em segundas-feiras cinzentas nos escritórios, em piscinas e cinzeiros, em abraços e ofensas, o amor acaba com ódio, acaba mesmo com amor, nem tanto, um tanto só, de amor; acaba sozinho, culpado, acaba em conjunto, triste; esquece-se do amor, como uma música da infância, uma tarde em que morremos de rir, uma cidade inteira onde já estivemos e já não está mais dentro de nós; onde foi parar, o amor? Foi-se embora para Pasárgada, onde é amigo do rei 9de nós, certamente, já não é), fugiu para Maracangalha (com Amália?), aposentou-se no Beleléu, foi pro inferno, pro limbo, pro céu ou, quem sabe, reside agora num baú, num sótão, numa rua calma em Santa Rita do Passa Quatro; o amor não escolhe o momento de terminar, vai-se no susto de um pôr-do-sol interrompido por uma buzina, no primeiro ônibus da manhã, é soterrado pela pilha de jornais atirados diante da porta, vai embora com a borra do café; "em todos lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba;para recomeçar em todos lugares e a qualquer minuto o amor acaba".

Antônio Prata + Paulo Mendes Campos

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