Sentada. Tomando um gole da garrafa pet de Sprite, seu refrigerante preferido. Pensava. Pensava que ali sentada passaria pela calçada alguma solução qualquer que a tiraria da monotonia. Fora em festas, confraternizações, saideiras, e botecos sujos de copos imundos. Porém, solução alguma lhe aparecera. Então resolveu ali sentar e encher a cara de refrigerante. Colocava a mão no queixo, deitava de barriga pra cima ignorando os vermes e bactérias que na calçada vivem, se reproduzem e morrem, em nome das nuvens que obsevava passar em sua lentidão corriqueira, função de nuvem. "Aquelas nuvens se mostram mais monótonas do que a minha pessoa, pensou. E depois levantava, tomava outro gole, deitava e levantava. Nesse sobe desce nada de monótono estava acontecendo ao seu redor. Nesse sobe desce ali passou a empregada levando a mascote Filomena para seu passeio diário, o entregador da videolocadora entregando a encomenda para a casa vizinha, passou Tia Leda que olhou pelo canto dos olhos a garota olhando para as nuvens ( e ainda pensou consigo mesma "essa juventude não faz nada, na minha época as coisas não eram assim"), passou Eduardo, Celso e Marcelo, três reles desconhecidos que caminhavam pela vizinhança aleatoriamente. Eduardo, Celso e Marcelo, o primeiro passou às 13 h, atrasado para a faculdade, escolher aquele caminho pareceu-lhe uma boa ideia por ser um atalho para seu destino já que se encontrava atrasado para a aula de Teoria da comunicação. O segundo, Celso, passara meia hora antes de Eduardo, estava perdido, buscava a casa do amigo Robson que lhe dissera para virar na terceira rua à esquerda. Mal sabia ele que aquela já era a quarta à esquerda. Marcelo sabia muito bem onde estava, acabara passando em um concurso e seu objetivo ali na rua dos Almirantes era entregar cartas, era um tanto novo para o cargo, mas carregava em seu corpo a farda dos correios com orgulho, acreditava que quanto mais propagarmos os costumes de antigamente melhor a geração futura manterá valores que a sociedade atual está se esquecendo. Ele passou às 15 horas e 23 minutos.
A menina, ali, ocupada de se deitar, levantar, tomar um gole de seu refrigerante de preferência, e lamentar seu cotidiano medíocre, esqueceu-se de olhar ao seu redor e perdeu três chances de amar.
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